quarta-feira, 29 de abril de 2009

Cascatas...

Adormeço, acordo…
Permito-me sonhar com aquilo que mais desejo, com a total corrente dos meus anseios, procurando buscar e trazer ao nosso alcance, tudo aquilo que a realidade por mais perto que a pressinta, jamais nos trará.
Fecho os olhos por largos instantes e no meio desta escuridão, imagino-te comigo num lugar paradisíaco, deserto, alheado da implacável acção do tempo, da necessidade brusca das obrigações por realizar, das vontades impostas pelos outros em nos moldar e perseguir…
Dou-te a mão nesta cruzada de sonho, neste infindável limite onde apenas ambos existimos, descobrindo encantos, realçando emoções, vivendo momentos. Puxo-te para o interior desta ilha de fantasia, correndo, fugindo, indo em busca de um paraíso em que acredito, sem no entanto ter a certeza que o encontre. Sorris comigo, acompanhando-me, seguindo-me nesta crença absurda e insensata, ainda que a tua convicção te sugira que jamais o deixes de fazer. Finalmente, encontramos a nossa fonte, a nossa cascata de sentimentos, a nascente onde a sujidade se purifica e o amor se demonstra…
Molhamo-nos, lavamos os nossos corpos das obscenidades que sempre nos vestiram a pele... Abraço-te, perco-me num beijo silencioso perante o forte ruído que a queda da água provoca nestes rochedos. Sinto a frescura dos teus lábios no calor das nossas bocas, o agradável odor que a suavidade do teu cabelo me produz, o extraordinário desejo com que o teu corpo me invade e aquece.
Novamente em sonhos, pergunto-te carinhosamente e através do olhar, no quanto nos amamos, no quanto teremos perdido até finalmente nos encontrarmos, no quanto ainda poderemos recuperar enquanto por aqui nos mantivermos… Sorris carinhosamente, fechando os olhos, colando o teu corpo no meu e beijando-me calorosamente. Convidas-me a ser teu, a invadir o teu íntimo, a tocar-te como nunca o terão feito. Estremeço, derreto, entrego-me…
Desapareço por momentos como se me ausentasse fisicamente do meu existir, levitando, crescendo e quase fugindo. Desço sobre ti, presenteando-te com o meu toque, com a vitalidade do meu sentir, com a totalidade do meu ser. Beijo-te, provo-te, acarinho-te… Dispo-te das curtas vestes que te preenchem e faço-te minha. Abraço-te, amo-te, desejo-te! Percorro cada centímetro da tua pele, não descurando qualquer pedaço do teu corpo… Rejubilas, suspiras, entregas-te! A água que cai e nos inunda com a sua frescura, é a maior das dádivas para o calor que ambos exalamos.
Excitas-me, provocas-me, pedes-me…
Sinto-me amar-te com o mesmo amor que nutro por mim.
Sinto-te amar-me com o mesmo amor que por ti igualmente manténs…
Não, não é egoísmo nem nunca o foi! São intensos momentos de busca de prazer, de realização de um amor-próprio, de uma satisfação só ao alcance de verdadeiros amantes.
Abre-te para mim, descubramos as estrelas por entre o crepitar das gotas de água que nos molham. Desejo-te intensamente, ardentemente, apaixonadamente…
Move-te, circunda-me, puxa-me para ti! Faz-me teu nesta forma pura de nos amarmos e de nos preenchermos. Faz amor comigo como se nada mais existisse e nada mais pudesse existir. Sente-me entregue no teu corpo, penetrando-te, saciando-te e amando-te como nunca o sentiste. Vem, preenche-te comigo na loucura de um simultâneo clímax de prazer e satisfação. O momento é teu, o amor eternamente nosso!
Por fim, mergulhemos juntos na límpida clareza destas águas que nos serviram de cenário e de maravilhosos instantes. Jamais o esqueceremos…

sábado, 25 de abril de 2009

Cravos...

E porque a liberdade é mais do que o direito de nos sentirmos livres, libertos de toda a opressão induzida e de regimes que forçosamente nos perseguem e engolem, aqui deixo o meu tributo ao dia que hoje se comemora. 35 anos... Tão longe e ao mesmo tempo tão perto...
Que se recorde para sempre o momento em que finalmente houve a coragem de se derrubarem barreiras e de se erguerem pontes para um mundo que há muito se coadunava com a vontade de um povo.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Aulas...

Há algum tempo que tinha voltado a frequentar o Ensino Superior.
A necessidade de uma maior formação académica aliada a uma vontade de realização pessoal, tinham-me forçado a continuar os estudos em horário pós-laboral. Os semestres sempre foram cansativos, exigentes e nem mesmo as cadeiras mais simples pareciam sempre fáceis de ultrapassar. Ao longo do tempo, deparei-me com bons e maus colegas, bons e maus docentes, mas como em tudo na vida, estava ali por mim, procurando alcançar os meus objectivos e tentando vencer os obstáculos com uma razoável força de vontade. No entanto e nas enormes secas que eram algumas das aulas, a atenção virava-se para outros campos, quer fossem mulheres, automóveis, futebol e tantos outros temas que a atenção prendia. Numa dessas aulas, recordo-me de uma chamada de atenção da professora de Álgebra para o meu alheamento e devo confessar que a situação foi deveras incómoda para mim. No final daquele dia, voltei a cruzar-me com a mesma professora e da mesma forma que tantas vezes sentia a minha mente levitar e ocupar-se de outras matérias, imaginei-a comigo, em minha casa, despindo-a, tocando-a, tornando-a minha…
Era uma mulher atraente, não muito mais velha do que eu, mas por quem nunca tinha idealizado qualquer fantasia. Naquele dia, talvez aquele correctivo me tenha feito despertar e olhá-la com outros olhos, levando-me a procurar melhorar o meu comportamento e fazendo com que a minha atenção se prendesse unicamente com ela. Nos dias seguintes, a matéria continuou enfadonha, aborrecida e monótona, embora a minha postura se focasse de tal forma naquela mulher, que dava a sensação de que realmente estaria interessado nas lições. Por fim e numa véspera de exame, pediu-me para ir ter com ela no final da aula. Ficámos sós naquela sala e fui confrontado com a minha falta de interesse naquela cadeira. Permaneci calado, sem conseguir articular qualquer palavra ou elaborar um raciocino lógico que me conseguisse ilibar da minha atitude. Apenas me concentrava naqueles lábios, naqueles carnudos lábios que se moviam e debitavam palavras que para mim não tinham qualquer validade. Levantei-me, pedi-lhe para sair e no instante em que o fiz, senti-a tentadoramente perto. Ambos parámos e naqueles momentos de silêncio, cometi a ousadia de a beijar, de a sentir em toda a sua plenitude, de a conseguir trazer para mim…
Com o mesmo impulso, senti-me acordar, corando, envergonhando-me e pedindo de imediato desculpa pela minha loucura. Senti a boca seca, um pânico imenso e o desejo enorme de desaparecer dali o mais rapidamente possível. Ela permaneceu imóvel, apática e igualmente sem qualquer reacção. Pegou nas suas coisas e saiu…
Segui-a até à casa de banho, tentando desculpar-me e procurando remediar o meu gesto.
Entrei naquele espaço exíguo e embora fosse exclusivamente feminino e interdito a alunos, não receei por quebrar mais uma regra. Aproximei-me dela e voltei novamente a pedir-lhe desculpa. Ela virou-se e olhando-me nos olhos, soletrou um “porquê” por entre dentes. O nervosismo e a inquietação consumiam-nos e novamente num acto de completa insanidade, voltei a beijá-la. Puxei-a para mim, sentindo-a entregue, absorvida e da mesma forma com que a beijava, senti-lhe a vontade de retribuir no mesmo beijo. Tocou-me, apertou-me de encontro ao seu corpo, excitando-me e acariciando-me como se me quisesse naquele momento. Deixou-se encostar à parede e desapertando-me o cinto, aceitou que lhe tocasse, que a sentisse, que a penetrasse.
Fizemos amor num ímpeto de loucura e de utopia. Aquele momento não poderia ser, jamais poderia estar a acontecer e ainda menos naquelas circunstâncias. Apesar da hora tardia e da quase inexistência de pessoas naquele edifício, o receio de sermos surpreendidos não só terá contribuído para aumentar a excitação, mas também para o termos feito de uma forma bastante mais contida. Realizados pela satisfação que a ambos proporcionou, saímos dali com a irrealidade daquele acto bem patenteada na nossa mente. Nada durmi naquela noite, nada estudei para aquele exame… O receio de que algo mais grave pudesse ocorrer caso ela participasse de mim ou se tivéssemos sido vistos por alguém, não parava de me atormentar a consciência.
No entanto, nada aconteceu e acabei mais uma vez reprovado naquela maçadora disciplina que nunca me atraiu. Devo confessar que aquela professora cujo nome trago comigo, continua a ser uma maravilhosa amiga colorida que ainda me preenche e realiza.
A cadeira, essa, há-de ser feita um dia, com maior ou menor dificuldade…

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