quarta-feira, 24 de março de 2010

Convívios...

6ª Feira, 16 de Maio de 2008.
Estranhamente, recebo uma mensagem no telemóvel a meio da tarde, contendo umas coordenadas geográficas e um pedido quase obrigatório de entrada naquele local até à meia-noite.
Saio do emprego ainda aturdido, curioso e apressado em direcção ao meu carro. Ligo o GPS, introduzindo cuidadosamente cada um daqueles números e esperando ansiosamente a localização exacta daquele lugar. Com surpresa, a indicação surge-me no visor, deixando-me boquiaberto: Quinta da Marinha, Cascais.
Estupefacto, tento raciocinar o mais rapidamente que posso. O lugar conheço, o espaço em si nada me diz. Quem teria sido o autor daquela mensagem anónima, a requerer ali a minha presença? O que iria lá eu fazer ou que evento se iria ali realizar que não pudesse ser descrito? A minha mente dava voltas, rebuscando e procurando a mínima pista diante dos meus olhos ainda incrédulos sobre o piscar do cursor do GPS. Quase instantaneamente, o telemóvel dispara um novo toque de mensagem. Os nervos atraiçoam-me e quase o desligo. Carrego em todas as teclas como se nada percebesse do meu telefone, até finalmente abrir a SMS. Dizia apenas isto: “Uso Obrigatório de Máscara. Dress Code: FANTASIA”
Um sentimento de raiva e de impotência apoderam-se de mim, talvez misturado com a revolta de não poder comunicar e nada mais saber. Sigo viagem em direcção a casa, não prestando atenção a mais nada a não ser a visualização mental dos dados indicados pela minha bússola electrónica, o mapa ali desenhado e os caracteres das mensagens recebidas. Tomo um duche rápido, visto uns jeans escuros e uma camisa clara, ainda que a indefinição sobre a forma de me apresentar, seja mais que muita. Coloco uma pizza no forno, dou de comer ao gato que não me larga desde que cheguei e acabo por me deixar cair no sofá de telefone na mão. Passo os olhos naquelas frases e a conclusão a que chego é a mesma: nula! Mastigo a borracha ultra-congelada de sabor a fiambre e azeitonas, alternando com um zapping desenfreado e irrequieto. Interrogo-me continuamente sobre se será boa ideia me atrever a ir… Penso, penso e penso…
Olho para a cinza no fundo da lareira. Oiço a brisa vinda do exterior e procurando segui-la com o olhar, subo a chaminé como se acompanhasse o fumo que tantas vezes por ali desaparece. Páro a meio, fitando as máscaras de cartão que trouxe de Veneza e que servem de decoração ao meu espaço. Sorrio, levanto-me e retiro-as da parede. Sacudo o pó de uma delas, colocando-a por graça no meu rosto. Procuro ver-me reflectido no vidro das janelas, tentando compreender até que ponto, as mesmas me ocultam a identidade. Tomado por um impulso, saio a correr em direcção ao carro, voltando a introduzir as coordenadas no aparelho e fazendo-me à estrada. Chego ao local exacto com alguma antecedência, “mascarando-me” e ficando estacionado junto à enorme vivenda onde vim dar. Vejo entrarem algumas pessoas, também elas “escondidas” e misteriosas…
Vou atrás, batendo à porta e revelando o código de entrada a um sorriso feminino que me dá as boas vindas. Lá dentro, o ambiente é festivo e absurdamente carnavalesco. Há música ambiente, uma decoração cuidada e um excelente serviço de mesa. Todos se olham, notando-se claramente uma enorme ansiedade e inquietação. Formam-se pequenos grupos na enorme sala que nos recebe e que estará composta por não mais de uma vintena de pessoas. Dirijo-me à casa de banho, procurando ganhar algum tempo para que algo aconteça e algum conforto num espaço mais exíguo e fechado. No pequeno lavatório, uma mulher snifa uma linha de coca, sorri-me e beija-me extasiadamente. Perplexo, deixo-me contagiar, sendo arrastado para o salão onde todos se encontram. Por lá, já o mesmo acontece…
Vejo corpos semi-despidos, gente que se toca, que se beija, que se diverte. A minha “parceira” desce sobre mim, ajoelha-se, abre-me cada um dos botões das calças e entrega-se vorazmente. Chupa-me, massaja-me e lambe-me o sexo como louca. Por trás, alguém me agarra… Uma outra rapariga abraça-me, beija-me, percorre-me os lábios com a língua e ajuda-me a despir um pouco mais. Entrego-me ao ritual, sentindo um preservativo ser-me colocado e começando a foder…
Todos o fazem, com 2, 3 parceiros… O deboche é completo, a orgia consumada!
O que ao princípio parecia um simples baile de máscaras, dá agora lugar a um cenário onde todos se entregam aos prazeres da carne. Escondidos e misteriosamente protegidos por um disfarce, tento raciocinar sobre a identidade de cada uma das pessoas ali presentes. Quem conhecerei, quantos saberei quem são? Serei igualmente amigo ou colega de um deles? Mantenho anexado a tudo isto, a interrogação sobre o autor de tão estranho convite.
Ao meu redor e apesar do bacanal que ali se realiza, todos me parecem normais e bem resolvidos com a sua orientação sexual. Todos vibram e se deliciam com o momento, ora trocando de parceiros, ora chegando ao fim com quem inicialmente começaram. Chovem pequenos papéis coloridos sobre os corpos suados, colando-se e molhando-se na pele nua de quem ali se encontra presente. Sucedem-se os gemidos, vibrantes, sedutores, contagiantes, provocadores… Ao meu lado, uma rapariga olha-me nos olhos, sorrindo e apertando os seios a cada estocada do “seu” homem. Excita-me, delicia-me e insisto na penetração da “minha” mulher com mais veemência. Venho-me por fim, esporrando-me naquele corpo à minha mercê. Ela regozija-se, espalhando o meu sémen pelo corpo e levando os dedos besuntados à boca. Lambe-os, chupa-os, agradece-me… O mórbido baile continua por entre abraços e beijos de quem se encontra preenchido. Vão-se vestindo e saindo daquela casa com o avançar das horas. Ainda moribundo, saio também… Estranho, decadente, incrédulo!
Ligo o carro e nem o barulho do motor a trabalhar me parece acordar para a realidade. Talvez porque o ali vivido tenha sido demasiadamente estranho… Talvez porque o ali sentido, não tenha passado de um sonho real embora extremamente utópico.
Arranco a toda a velocidade, embrenhado no mesmo espírito de inexistência e sumindo dali como se estivesse agarrado a um viciante jogo de vídeo.
Ainda hoje guardo aquela SMS, talvez por ser a única prova visível de que aquele dia realmente aconteceu. Apesar da curiosidade, nunca procurei aquela casa novamente e não mais voltei a ser convidado para algo do género. Contudo, não deixo de tentar associar alguns sorrisos àquelas metades de rosto com quem privei. As conclusões a que chego não me levam a nada nem a ninguém… Talvez um dia o venha a saber, da mesma forma que adoraria ver revelada a identidade do autor do convite. Talvez um dia… Novamente!

3 comentários:

Anónimo disse...

Inquietante a euforia que viveste.
Respiro fundo. Toda esta cena faz reflectir no quanto há de arriscado, enigmático, porém excitante.
Eu também guardaria a SMS.

Diana

Nanny disse...

Deve ser por isso que eu guardo todos os sms... hihihi

A fantasia perfeita... da próxima vê lá se convidas alguém... sei lá!

:P

Anónimo disse...

Para quê guardar a sms se já se tem as coordenadas no gps...além disso o próximo bacanal é noutro sitio numa outra hora...


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